26.12.04

Ver pessoas

Ver pessoas é sempre bom. Pode ser aquela pessoa que você não vê há algum tempo ou o amigo que você vê quase todo dia. O camarada que você liga quando está numa enrascada ou o seu colega de sala que você gostaria de ter conhecido melhor. Por acaso. No metrô, entrando no mesmo vagão que o seu. Na rua, indo fazer alguma tarefa enfadonha do tipo comprar brócolis. No aniversário nem tão animado assim do colega que vocês têm em comum.

Encontrar pessoas que você gosta é sempre revigorante. Obrigado. Vocês fazem o meu dia mais feliz.

PS: Festinhas de fim de ano são um saco, mas já que elas existem e todo mundo tem que participar, que a de vocês tenha sido pelo menos um pouquinho boa. Abraços.

17.12.04

Fortius

Fique bem forte. Faça bastante musculação, puxe bastante ferro, aprenda boxe, jiu-jitsu e tudo o mais que você puder que faça com que você dê uma porrada bem forte na cabeça do sujeito e ele saia sangrando. Ou carregue um taco de beisebol no porta-malas do carro a fim de quebrar algumas costelas e causar alguma hemorragia interna.

Contrate seguranças parrudos que agridam jornalistas que por acaso venham tirar fotos da casa do seu vizinho, mesmo que ele seja um dos maiores salafrários do continente. Tenha certeza de que eles mantenham bem longe de você toda a miséria suja e feia que circula pela cidade e pela qual você é parcialmente responsável.

Ostente. Pague bem caro pelos bens materiais que só você pode ter. Finja que isso é algum tipo de investimento intelectual. Continue acreditando que você chegou até a Universidade pública por méritos pessoais ou que a possibilidade de pagar a faculdade particular mais cara da cidade é por esforço dos seus pais que trabalharam tanto.

Minta. Minta bastante. Tenha casamentos de conveniência. Conte nas reuniões de família como você é bem sucedido na carreira que você não suporta. Acredite que Medicina e Direito são feitos de ajudar as pessoas e que Publicidade é uma profissão e não filhadaputice.

Emita sinais ambíguos. Bata o pé. Espere alguém ceder.

Feche-se. Seja o mais reservado possível. Não conte pra ninguém. Volte pro armário. Guarde tudo na gavetinha. No seu diário secreto. Ninguém precisa saber. Nem você sabe mais.

Você irá longe. Tenho certeza disso.

12.12.04

Go!

do you ever feel like you just landed on this earth?
see the creatures all do their dances back and forth
you get restless and then you join them on the floor
suddenly it’s tomorrow
it’s not today anymore

d’you ever feel like what we call real life is not so real?
tripping up on the same old problems you had last year
well we’ll pretend it’s another planet not so uptight

where are we going?
i don't care
it’s getting late
let’s go anywhere

Nada Surf (Hi-Speed Soul)

9.12.04

A seta e o alvo

Eu não tenho mais medo de carro. Posso brincar de girar aquele negócio que fica na frente do motorista e pisar naqueles pedaizinhos sem grandes traumas. Mesmo sem fazer a mínima idéia de pra que raio inventaram a embreagem (puta nome feio) e só usando até a segunda marcha. Claro que eu estou naquela fase em que a pessoa ao volante ainda não percebeu que o seu carro não é o único desfilando na rua e que os outros habitantes da cidade têm pressa. Já vi formarem-se pequenas filas atrás de mim. Mas pelo menos ninguém buzinou. Ainda.

Aliás eu já sei mais ou menos o tipo de motorista que eu devo me tornar. Dirigir é feito de repetições, uma coisa meio enjoativa (pelo menos para nós que não fazemos racha) e tudo que é mecânico demais me faz pensar. Se eu colocar uma música de chill out acho que sou capaz de atingir o nirvana. Só hoje eu tive que ficar uns dez segundos indo em linha reta já deu pra eu começar a pensar em outra coisa. Fui interrompido pelo meu instrutor indicando virar à direita. Não é a toa que existem tantos acidentes em rodovias.

Mas a minha meta depois de eu me tornar um investidor de grande projetos continua sendo abrir uma auto-escola com carros limpinhos de cor simpática, que não tenham freios de mão emperrados, com instrutores que se importem e que tornem o processo agradável ao invés de enfastioso e sem senhoras tagarelas pra cuidar da papelada.

Eu só teria que ir morar num condomínio fechado. Porque depois de ter levado as outras auto-escolas à bancarrota, a máfia do Detran ficaria na minha cola. Uma coisa eu sei. Eu teria clientes.

8.12.04

Limpinho

O universo indie é um antro de conservadorismo. Ser indie é meio que um contra-ataque nerd depois de uma adolescência de padrões duramente estabelecidos.

Tá bem, talvez eu esteja exagerando. Mas o universo indie é no mínimo um poço de caretice. Porque no fim não se bebe, não se fuma, não se usa drogas. O seu corpo é um templo? Então por que você é sedentário? Academia é uma massificação de comportamento? Falou quem bebe Coca-Cola e veste Adidas na balada.

Se você for indie e gay então, tá tudo perdido. Não existe nada mais conservador do que um rapaz com oclinhos de aro grosso, jaqueta laranja cool e cabelo a Francis Healy procurando seu mate limpinho, honesto, responsável e de jaqueta igualmente cool. aka alguém como o Rivers Cuomo.

Vocês vão ter uma família por acaso? Vocês não precisam passar seus genes adiante, viu.
Cacete, eu acabei de derrubar a Teoria do Darwin.

1.12.04

O canal do macho

"(...) não terá espaço para assuntos "metrossexuais" e poderá ser assistido por toda a família (menos o FXXX)".

PS: segundo a fonte FXXX é a programação "sensual" (sic) do canal

Sociedade secreta do quinto andar

Feche a Ilustrada e abra o Cotidiano.
"Precisamos estirpar (sic) este cancêr (sic) da face da Terra, chega de captalismo (sic), chega de Likud, chega de Sharon". É o que se lê na foto da parede de um banheiro da PUC-Rio.
"Eles podem lavar o banheiro, mas não podem lavar a mente dessas pessoas. Nós iremos entrar na justiça..... (...)". Resposta do presidente da Federação Israelita do Rio de Janeiro aka o judeu de mente pura.

Estou longe de ser anti-semita, mas sou um quase declarado anti-sionista. Que babaquice é essa de lavar a mente de alguém? E se você se acha incapaz de mudar a cabeça de uma pessoa em relação a qualquer assunto, bem, então desista de ser ser humano. Talvez você seja mais bem sucedido como pedra.

Fora isso, quem é que dá bola pra uma pichação em um banheiro sujo de uma faculdade? Eu admito que manifestações de preconceito são manifestações de preconceito e são nas menores coisas que você realmente percebe onde eles existem, mas o tal presidente se surpreenderia se visse a quantidade de pichações racistas e homofóbicas que proliferam nos banheiros da cidade inteira. É duro? É. Não deveria ser assim? Não. Mas o que se pretende, sair à por aí caça de pichadores de banheiro fajutas? Sem contar que isso não diminui o preconceito em qualquer nível, só inibe o ato. Talvez essa seja a intenção.

Pois eu queria ver um nordestino argumentando ser vítima de preconceito regional enquanto ele cagava no banheiro do trabalho. Queria ver se saía em meia página de jornal.