29.9.04

Agasalho cor-de-grafite

Era um pouco mais baixo que eu. Um pouco mais novo também. Os traços eram ainda de menino, com a escassa barba por fazer começando a surgir naquele rosto agradável. Vestia trajes comuns. Calça velha e agasalho cor-de-grafite de um modelo de algumas temporadas atrás. O sapato de aspecto singular denotava que o restante da indumentária era apenas puro desleixo. Os óculos de armação fina não escondiam seu olhar intrigante.
Atento como o de um pesquisador. Inquieto como o de um adolescente. Determinado porém ainda não completamente seguro de si.
Cortante.
Como o de alguém que olha diretamente para você.

8.9.04

Madrugada erótica

Outro dia eu estava voltando pra casa de madrugada e eis que eu vejo o tradicional mendigo que habita as redondezas mandando ver com a sua companheira que eu ainda não conhecia. Deve ter durado uns dois segundos entre eu me deparar com a citadina na posição de quatro e o meu colega grunhir algo ininteligível com a entonação de "get a life!".

Se não foi das experiências mais agradáveis, foi altamente subversivo perceber que não somente fazem sexo as pessoas atléticas e cheirosas, bem sucedidas e com a cama arrumada, como dizia a minha latente concepção burguesa-pósmoderna-construídapelatelevisão do sexo esteticamente perfeito. Fiquei feliz por eles terem vida social ativa. Sexo todo mundo faz. Ponto.

3.9.04

Acordou

Ontem eu enchi a banheira de água quente, desliguei a caldeira. Tomei duas doses de vodka, tomei quatro analgésicos. Passei o fecho na porta, fechei todas as janelas. Desliguei a chave de luz, abri o gás. Entrei na banheira, fechei os olhos. Tive o melhor sonho da minha vida.