Cantil sempre cheio

Eu que achava que transformar o mundo era pinto. Que cursar uma faculdade sem ter como objetivo principal o mercado de trabalho era coisa fácil. Que as pessoas saberem da sua orientação sexual era bem melhor que viver no anonimato. Que enriquecer como ser humano era bem mais importante que independência econômica. Que ser gentil era bem mais interessante do que ser indiferente ou rude.

Acredite nessas e um monte de outras besteiras na sua adolescência e você se sairá um pequeno tumultuador. Continue acreditando nelas e se adeque ao sistema e você poderá se sair um grande líder e/ou um pequeno revolucionário. Talvez um importante diplomata, ou fundador de uma ONG transnacional. Quem sabe intelectual renomado ou então diretor de uma grande empresa com métodos inovadores.

Seja um pouquinho radical e você terá saído dos trilhos. Seja seguro e auto-confiante e você vai construir uma comunidade alternativa. Viverá no meio do mato, na companhia das flores silvestres e dos passarinhos. Será feliz.

Seja um pouco melodramático, pouco empreendedor e não tão comunicativo assim. Bem, você será eu. Terá idade para estar formado, sem estar completamente decidido se optou pela via expressa ou pelo caminho alternativo. Verá seus amigos e colegas equipados de motores possantes, prontos pra encarar o congestionamento que os aguarda no pedágio à frente. Ou então munidos de bicicletas multifuncionais ecologicamente modernas pra pegar a estrada de terra.

E você estará a pé. Querendo voltar pro ponto onde se comprava o carro ou se montava a bicicleta. Consciente de suas escolhas porém ansioso pelos resultados. Um tanto desacreditado mas ainda sonhador.

Sem saber direito o que fazer.
Pondo a mochila nas costas. E indo em frente.

Intangibilidade

Um dia meu professor de filosofia fez com que eu me sentisse menos só em uma adolescência cheia de sonhos inatingíveis e certezas intangíveis. Tornou o colégio um local um pouco menos inabitável e as manhãs de quarta-feira um pouco bem mais que agradáveis.

Introduziu-me aos filósofos clássicos e fez aumentar meu interesse pelo contemporâneos. Tive meu interesse por literatura potencializado. Foi-me dado voz. Pude escrever. Brincar de escrever. Ler. Criticar. Escrever de novo.

Pude compreender-me melhor. E aqueles à minha volta. Meu universo foi expandido.

Saí da escola antes do ano terminar. Acho que nunca tive a oportunidade de dizer isso para ele.

Acho que eu gostaria de ser professor de filosofia.

Somebody save me

Nada de sociedades, cinematecas, multimídias, filosofias, meio ambiente, relações internacionais, artes, arquiteturas, mapas.
A bola da vez na vida acadêmica de piers agora são números.

Se algum dia eu me tornar um tecnocrata alguém por favor me dê um cutucão. Não, um chacoalhão. Bem forte.

Acho que vou precisar.
Acho que já estou precisando.