28.8.04

Celebrate Humanity

Durante os últimos dias o mundo esteve concentrado. O nadador neozelandês atravessou a piscina com as braçadas mais rápidas que qualquer ser humano já deu. O ciclista uruguaio chegou mais de uma volta atrás de seu adversário espanhol. Mas fez a melhor volta de sua vida. O barco norueguês terminou com a medalha de prata. Seus oito robustos remadores choravam feito crianças sem colo. O judoca do Azerbaijão conseguiu a primeira medalha da história de seu país. A ginasta romena executou um movimento inédito que levará o seu nome. Em quadra, sérvios e croatas puderam esquecer por um momento seu passado litigioso e indianos puderam estar à frente de seus colonizadores britânicos. Quatro ouros foram pouco para o Canadá. Dois, mais que excelente para o Vietnã. Houveram os que abusaram de artifícios para atingir a vitória. E pior que esses, aqueles que desrespeitaram seus adversários. É uma pena. Estes têm o corpo necessário para conquistar uma medalha olímpica. Mas certamente não têm a grandeza necessária para atingir a glória.

26.8.04

Gorro escuro cor de oceano

Tinha as unhas bastante carcomidas. Bastante. Mas mesmo o carcomismo das unhas era cuidadosamente delineado, de modo que pareciam melhor cuidadas assim do que se tivessem sido rapidamente lapidadas por um cortador.
Vestia um gorro escuro cor de oceano que tampava-lhe as orelhas tal como um abrigo de lã estilo andino a cobrir-lhe quase completamente o pescoço, ficando à mostra apenas o rosto de traços leves com a barba levemente ruiva por fazer, a denotar mais esmero que desleixo.

Os olhos castanho-escuros atenciosos fitavam um livro sobre jovens rebeldes do leste europeu.
A campainha soou. As portas do metrô fecharam antes que ele soubesse da minha existência.